
No fim do séc. XIX e princípios do Séc. XX havia na praia do Ribatejo dois madeireiros e agricultores com
ligações familiares: Thomaz da Cruz e Manuel Vieira da Cruz, com a
particularidade de ambos virem a ter fábricas de serração na Pampilhosa.
Thomaz da Cruz foi
pai de quatro filhos: Francisco, Joaquim, José e António.
Com a entrada em funcionamento,
em 1882, da linha de caminho de ferro da Beira Alta, a Pampilhosa
começou a transformar-se por completo. A atual parte baixa de
Pampilhosa, onde em 1870 não havia qualquer prédio, foi ocupada por
algumas fábricas, armazéns e residências em poucos anos. Só cerâmicas
chegou a haver quatro na zona entre os sítios da Ribeira das Cebolas,
Paradas e Entre Silveiras que, com o caminho-de-ferro da Beira Alta
passou a ser referida por Entroncamento de Pampilhosa.
A
primeira fábrica de serração de madeiras a ser instalada no
Entroncamento (de Pampilhosa) foi de Thomaz da Cruz & Filhos, junto
à via férrea e um pouco a sul da estação, isto no ano de 1905.
Foi o caminho de ferro e a consequente instalação de
indústrias de barro e de madeira que muito contribuiu para a criação de
um pólo industrial e populacional da menos populosa Freguesia do
Concelho de Mealhada que, em 1880, somava pouco mais de 650 moradores e,
em 1910, já perto de 1500.
A
esse surto de desenvolvimento sempre esteve ligado o nome de Joaquim
da Cruz, com o seu dinamismo e a sua simpatia, levando-o a ser
considerado e respeitado na terra.
De facto, Joaquim da Cruz,
republicano dos quatro costados, democrata e anti-clerical, muito cedo
se embrenhou na politica local, ainda durante o regime monárquico,
entusiasmando-se pelo desenvolvimento de uma comunidade que crescia e
passou a considerar como sua. Nos primeiros tempos, Joaquim da Cruz
ficou instalado na Pensão Rodrigues, um dos primeiros prédios a ser
edificado junto à estação dos Caminhos de Ferro.
Nos
últimos anos do séc. XIX e primeiros do séc. XX realizaram-se na
Pampilhosa Alta alguns espetáculos de Teatro por amadores e alguns dos
novos Habitantes do Entroncamento, nas cocheiras das carruagens do
Caminho de Ferro. O povo de Pampilhosa frequentava esses saraus
entusiasticamente.
Com o crescimento e o progresso da povoação,
justificava-se a existência de um local adequado para espetáculos
teatrais. O ferroviário Lúcio de Oliveira e Silva sugeriu a construção
de um edifício para Teatro. Na Tertúlia que então tinha lugar nas noites
do Restaurante da Estação, o assunto foi apreciado e Joaquim da Cruz,
Albano Christina e Abel Godinho logo apoiaram a ideia. Criou-se uma
comissão para se tentar fundar uma Sociedade Recreativa e Cultural e
para a construção de um teatro. Aos três entusiastas apontados
juntaram-se Joaquim e João Teixeira Lopes, José Ferreira Pires, Dr. João
Abrantes, Joaquim e José de Melo, Feliciano Rocha, Bartholomeu Dêlho e
Paul Bergamim, que cedeu à Comissão Organizadora do futuro Grémio de
Instrução e Recreio uma, leira de terra no sítio da Ribeira, para aí ser
edificado o Teatro.
A
construção do Teatro prolongou-se de 1906 até 1912, onde Joaquim da
Cruz teve grande preponderância. No aspeto cultural, importantíssima
para a Pampilhosa pois, na parte sul do Distrito de Aveiro, não havia
qualquer casa de espectáculos. Joaquim da Cruz foi o primeiro Presidente
da Direção, eleita em 1913. Sempre dedicou grande interesse pelo
teatro, pela cultura.
Após a implantação
da República, Joaquim da Cruz foi eleito o primeiro Presidente da Câmara
Municipal de Mealhada, dedicando particular interesse à Pampilhosa,
terra adotiva que considerava como sua.
Quando
surgiu a ideia da construção de uma escola primária no Entroncamento,
logo os dois irmãos (Francisco e Joaquim) aderiram à ideia, tendo a
Firma de que faziam parte oferecido o terreno. Joaquim da Cruz passou a
ser dos cidadãos mais populares e admirados não só na Pampilhosa, como
no Concelho.
Um ano
antes, sugeriu a criação de uma Feira
na Pampilhosa, na zona das Valadas que passou a ser referida por Feira.
Fez parte da Comissão para a construção de um fontanário artístico que
viria a ser inaugurado em 1916 e ficou a ser conhecido por Fonte do
Garoto, escultura em bronze da autoria do Maestro António Teixeira
Lopes.
Em 1912, sendo
presidente da Câmara, conjuntamente com o Major António Pinho, Dr.
Lebre, João Melo Mota e Augusto Brandão, dirigiu uma petição à Câmara de
Deputados, no sentido do Concelho de Mealhada voltar para o Distrito de
Coimbra, onde pertencera até 31 de Dezembro de 1853.
Em 1913 Joaquim da
Cruz fundou a Tuna Recreativa de Pampilhosa.
Entre
1917 e 1919 voltou a ser presidente da Câmara Municipal de Mealhada e
fundou o Jornal Factos.
Em 1920 teve a ideia de, conjuntamente com outros industriais da
Pampilhosa, criar uma espécie de Caixa Mutual, para a que também
contribuíram os operários com um pequeno desconto nos seus salários.
Como os operários não concordassem, a ideia gorou-se.
Porém
embora com alterações, a ideia voltou a ser tratada por alguns
industriais, acabando por ser criada a Associação de Socorros Mútuos 7
de Agosto, em 1921. Ainda apoiou Francisco Mourão na iniciativa da
criação da Casa da Sopa dos Pobres.
Por
essa altura, o filantropo industrial trouxe para a Pampilhosa o segundo
automóvel que houvera na terra, um vistoso Turcat-Méry, que, mais
tarde, seria o primeiro pronto-socorro dos Bombeiros Voluntários. O
primeiro automóvel que apareceu na Pampilhosa, foi um Chevrolet,
propriedade do senhor Semedo, que residia perto da capela do Senhor do
Lombo.
A oito de Dezembro de 1923, Joaquim da Cruz casou na Figueira da
Foz com D. Maria Rita dos Santos Carvalho, filha de Manuel José de
Carvalho e irmã dos Drs. Joaquim e Júlio José de Carvalho.
No
ano de 1924 ajudou a criação do Pátria Foot-Ball Club e deu apoio a
Adriano Teixeira Lopes e Joaquim Pires na formação de Empresa
Cinematográfica Pampilhosense, da qual inicialmente foi sócio.
Por essa
altura, Joaquim de Cruz defendia tornar-se imperioso construir um Bairro
Operário e aprovar um plano geral de urbanização, dado o seu
crescimento populacional, industrial e comercial, melhorando os
arruamentos e o asseio. Chamou atenção para a falta de critérios nas
edificações, necessidade de abertura de novas ruas e construção de uma
Passerelle sobre as linhas para acesso à Estação. Também apelou aos
proprietários para construírem edifícios com bom gosto, de forma a que,
futuramente, a Pampilhosa fosse mais atraente.

À sua
custa, mandou plantar várias árvores nas orlas das estradas da
Freguesia de Pampilhosa.
Em 1923, Joaquim da Cruz e Albano Christina
convenceram Joaquim José de Melo a autorizar graciosamente a canalização
de água de abundante nascente junto ao pinhal de Gândara, até perto da
zona habitacional. Construiu-se então um aqueduto com mais de trinta
arcos e essa fonte passou a ser a Fonte do Melo, inaugurada em 1925.
Tudo
isto demonstrava o valor e o carinho que Joaquim da Cruz nutria pela
terra que o adotou. Quando, em, 1926, se pensou em fundar uma
Corporação de Bombeiros, Joaquim da Cruz logo deu o seu incondicional
apoio e, com Adriano Teixeira Lopes, encabeçou a Comissão Organizadora.
Na primeira eleição, focou a presidir à Assembleia-geral. Depois, por
vários anos, Presidente da Direção e Primeiro Comandante, tendo
colocado à disposição dos Bombeiros, graciosamente, um seu armazém que
serviu de Quartel durante quinze anos.
Em
1931, vendeu ao B.V.P. o seu automóvel Turcat-Méry pelo preço
simbólico de 3.000$00. Passou a ser o Pronto-Socorro nº1.
No período
que se seguia à Guerra Mundial, principalmente no início dos anos
cinquenta, a crise acentuou-se e as fabricas a pouco e pouco, começaram,
a fechar. No período que se seguia à Guerra Mundial, principalmente no
início dos anos cinquenta, a crise acentuou-se e as fábricas a pouco e
pouco, começaram, a fechar. Vários ferroviários emigraram para África,
outros vão para França, a população pampilhosense reduz-se, continuando,
no entanto, a ser a mais elevada nas Freguesias do Concelho de
Mealhada.
Joaquim da Cruz que, a pouco e pouco, se vinha afastando da
vida ativa, social e económica, encerra a fábrica de serração. Acaba
por a vender, conjuntamente com a Vila Rosa, à Sociedade de Adubos
Ceres.
Pelo referido,
se pode concluir que Joaquim da Cruz, ribatejano que se tornou
bairradino, foi figura destacada de Pampilhosa.
Joaquim da Cruz faleceu
na Pampilhosa no dia 3 de Agosto de 1975, ficando sepultado, na sua
terra natal, Praia do Ribatejo.
Adaptado do texto retirado da página web da Junta de Freguesia
Adaptado do texto retirado da página web da Junta de Freguesia
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